2012/08/15

Empresas e economia trilham caminho de difícil retorno!


Um recente estudo da responsabilidade da Euler Hermes, empresa especializada em seguros de crédito, veio dizer-nos que as insolvências de empresas vão aumentar 50% em Portugal este ano.

No âmbito deste estudo, a referida analisou as economias de países que representam 86% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, e dele resultou a evidência que o continente americano será a exceção face ao sentido de desacelaração da economia mundial, com as insolvências de empresas a caírem 9% relativamente ao ano anterior enquanto, por sua vez, nos países do sul da europa, teremos um aumento de 20% de insolvências, um número recorde!

Também este estudo conclui que a desaceleração da economia mundial, as medidas orçamentais e monetárias tomadas, não são fatores que induzam qualquer melhoria (quebra) no ritmo de encerramento de empresas, sendo a Europa o principal responsável pela subida das insolvências.

No quadro europeu, Portugal lidera e destaca-se com um aumento estimado de 50% em 2012, valor acima do crescimento de 19% registado o ano passado, número já muito significativo. Estes dados mostram à evidência que as medidas restritivas não estão a dar frutos e é sintomático que na zona euro, por exemplo, em países como a Grécia e a Espanha, o crescimento das insolvências se situe em 30% e 20% respetivamente, precisamente os países onde foram aplicadas as mais fortes medidas restritivas.

Mas situemo-nos na realidade da economia portuguesa a qual, está em linha com as conclusões deste estudo, pois que até Junho, o número de empresas que iniciou processos de insolvência aumentou 46,7%. Aliás, no primeiro semestre deste ano, o número de falências atingiu 3.183 sociedades, a uma média superior a 500 por mês, concentradas sobretudo nos sectores da construção, indústrias transformadoras e retalho.

Esta realidade mostra-nos claramente que o tecido industrial está em perigo e, reconstituí-lo, vai levar tempo, sendo essencial para inverter este ciclo, novos incentivos à economia, acesso ao crédito e programas de apoio ao emprego.  

O Algarve, por seu lado, com um tecido empresarial muito fragmentado e composto essencialmente por micro e pequenas empresas, com debilidades notórias de tesouraria, onde a construção e os serviços conexos com esta atividade têm um impacto muito notório, é uma região que evidencia problemas graves, materializados no fecho de muitas empresas. Como consequência direta destes encerramentos temos um aumento exponencial do desemprego, catapultando-o para números muito expressivos no contexto nacional. Os números publicados esta semana pelo INE, a respeito do Algarve, dizem-nos que tínhamos no final do 2º trimestre 17,4% de desempregados.

Mas todos nós poderemos facilmente antecipar que o inverno que aí vem vai ser duro e não falo em questões de natureza climática. Sectores que geram muito do emprego regional, como por exemplo, a restauração, não vão aguentar e, lá por Novembro, com obrigação da entrega do IVA, agora à taxa de 23%, muitas destas empresas vão encerrar por incapacidade de cumprir com a administração fiscal.

Para agravamento de todo este cenário, temos um sector da construção parado e que não vai tão cedo inverter o ciclo de queda, sendo evidente a inexistência de mercado. Avizinha-se ainda uma outra realidade, a qual passará pela tentativa dos bancos em limparem dos seus balanços os ativos imobiliários que possuem, desfazendo-se destes a preços muito inferiores aos de custo, facto que necessariamente vai levar a que muitas das empresas deste sector ainda no mercado, e a cumprir, encerrem portas.

O cenário é de eminente colapso!

Torna-se absolutamente necessário que medidas de estímulo à economia sejam assumidas como prioridade. É o tempo da economia em detrimento do tempo das finanças, pois já todos percebemos que a meta do deficit nos 4,5% em 2012 é um objetivo em que ninguém acredita, nem o governo!

Esperemos que o Primeiro-Ministro aproveite o momento da rentré política para inverter o discurso e o rumo do empobrecimento que vem traçando para Portugal e nos devolva alguma esperança.

Eu, como muitos portugueses, queremos o acreditar que pode ser diferente!         


Fernando Anastácio

(empresário e militante socialista)

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