2011/02/05

O desemprego e a nossa realidade




Será que o flagelo social “desemprego” pode continuar a ser ignorado?

Habitualmente os meios de comunicação social disponibilizam-nos, de forma sistemática, os números oficiais nacionais e regionais do desemprego, permitindo-nos ter a percepção da expressão e da evolução em cada trimestre deste flagelo social, cuja média nacional, de acordo com os números do Eurostat, se situa actualmente nos 11%.


Recentemente, veio publicado no semanário “Expresso” um estudo que faz uma análise muito interessante do desemprego nacional, fazendo uma quantificação do desemprego por concelho.
Este estudo vem revelar-nos, à escala concelhia, alguns números preocupantes que a quantificação regional já fazia perceber estarem aí.

O Algarve apresenta-se como uma das regiões do país mais fustigadas por este flagelo do desemprego, mas entre os concelhos do Algarve destaca-se Albufeira, colocado no pódio nacional do desemprego - 22,2% de desemprego - o dobro da média nacional e o terceiro concelho do país com mais desempregados, só ultrapassado por Espinho e Mesão Frio.

Sendo o concelho de Albufeira um dos principais destinos turísticos do país, tantas vezes referenciado em estudos profusamente divulgados pelo município como um dos concelhos com melhor qualidade de vida e um dos concelhos com um consumo per capita dos mais elevados do país, importa tentar perceber o que pode explicar este exército de desempregados existente no concelho.

Para melhor se compreender a dimensão do problema que temos pela frente não convém esquecer que somente nos últimos 10 anos, em orçamentos municipais, o município de Albufeira teve ao seu dispor mais de setecentos milhões de euros, isto sem esquecer o significativo investimento público que no mesmo período foi canalizado para o município, ao que se alia todo o esforço de investimento que as empresas e os particulares realizaram ao longo desta última década neste concelho.

Perante este cenário coloca-se a questão: como podemos ter chegado aqui?
Certamente que vamos encontrar muitas das explicações na crise económica internacional e nacional, a qual está na origem do colapso do sector imobiliário, na crise em que o sector da construção civil mergulhou, nas dificuldades que as empresas do turismo tiveram que enfrentar para sobreviverem num mercado global extremamente competitivo onde a palavra de ordem tem sido racionalizar e reduzir os custos de pessoal e de funcionamento bem como no consequente impacto que toda esta realidade tem tido no sector dos serviços.

Mas esta resposta coloca uma questão e um desafio ao concelho de Albufeira e também ao Algarve: será que é no persistir deste modelo de desenvolvimento, assente na promoção imobiliária e na construção civil, com sector turístico maduro, mas pouco ousado e pouco inovador, em que a resposta ao desafio da competitividade tem sido feita pelo preço, que vamos encontrar respostas e oportunidades de trabalho para toda esta população inactiva?
Estou plenamente convicto que o caminho não poderá ser o de continuar a replicar o mesmo modelo e a persistir nas mesmas respostas!

Albufeira e o Algarve precisam de inovar e romper com este ciclo de perda, apostar na inovação e num modelo que não esteja preso à grilheta da especulação fundiária, um modelo que assente numa base produtiva diversificada onde o conhecimento, o capital humano e os nossos recursos naturais sejam devidamente valorizados e constituam uma vantagem competitiva, um modelo económico onde a criação de valor e a responsabilidade social sejam uma constante.

Estou seguro que as empresas e as famílias começam a ter a percepção que algo tem de mudar, mas a minha dúvida, a minha grande dúvida, é se os decisores políticos já perceberam que também eles têm de mudar os seus comportamentos e a sua atitude perante os problemas concretos.

O primeiro sinal que se é capaz de responder às dificuldades é reconhecer que elas existem!
Ora, o silêncio ensurdecedor por parte da Câmara Municipal de Albufeira relativamente a este tema e muito em particular a este facto concreto, quando habitualmente costuma ser tão célere a publicitar os sucessos, mesmo aqueles que se baseiam em estudos de credibilidade duvidosa, pagos pelo erário público e com um correlação muito directa entre quem paga e quem aparece no topo dos indicadores, deve deixar a todos preocupados e deve suscitar desde logo uma interrogação.

Então, os responsáveis autárquicos, não têm opinião quando Albufeira aparece no terceiro lugar no ranking nacional do desemprego com 22,2% de desempregados, o dobro da média nacional?
Este é o debate que temos de fazer e para o qual todos nós temos que estar disponíveis e empenhados mesmo que por vezes muito nos doa!


Fernando Anastácio (in observatório do algarve)





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