No momento em que o país vive a sua mais grave recessão económica, confrontamo-nos com um processo de destruição de emprego nunca visto, mais de um milhão de desempregados são a expressão da crise social e económica que assola o país.
Os números recentes do INE são a clara expressão dos efeitos
devastadores no emprego que o pacote de austeridade em execução está a causar ao
nosso mercado de trabalho.
No último trimestre de 2011 a taxa de desemprego chegou aos
14%, tendo-se verificado uma taxa anual de desemprego de 12,7% em 2011, número
que ultrapassou qualquer uma das previsões existentes, tanto nacionais como
internacionais.
Mas não podemos deixar de destacar o Algarve, onde o
desemprego assume uma expressão tremenda, o Algarve encerrou o 4º trimestre de
2011 com uma taxa de desemprego de 17,5%, apresentando uma subida do terceiro
para o quarto trimestre de 4,2 pontos percentuais, com quase cerca de 40.000 desempregados,
a região do país com a mais alta taxa de desemprego.
Os números do desemprego brinda-nos ainda com uma outra
realidade, um em cada três jovens estava desempregado no final de 2011. O
desemprego jovem atingiu os 35%, número que tem vindo a crescer ao longo de
todo o ano de 2011, situava-se no final do segundo trimestre em 27%, passou
para 30% no terceiro trimestre e terminou o ano com 35,4%!
Quando a nossa geração mais qualificada não está a ser
aproveitada, a que futuro podemos aspirar?
Não pode qualquer executivo responsável alhear-se desta
realidade, tanto na perspectiva nacional como na regional.
Na senda de uma linha de actuação baseada em criar factos
mediáticos para contrapor a situações de crise, prática muito usada num passado
recente e que os portugueses tiveram oportunidade castigar nas urnas, o governo
veio criar uma comissão para resolver o problema do emprego jovem, coordenada pelo
omnipresente ministro Miguel Relvas e lançar a polémica e perigosa ideia de
entregar aos privados, leia-se às denominadas empresas de gestão de recursos
humanos, o que hoje, por lei e por responsabilidade social do estado é função
dos centros de emprego, a colocação de desempregados ao mercado de trabalho.
Seria normal que o governo estivesse a trabalhar,
conjuntamente com a Comissão Europeia, no desenhar políticas activas de emprego
bem como em alocar os necessários recursos para a sua implementação, mas nada
disto se está a fazer!
O governo prefere continuar, não digo a ter fé que o
desemprego passe, mas a olhar para a crise com manifesta indiferença,
acreditando que da austeridade e da cada vez mais profunda recessão sairá uma
qualquer solução milagrosa.
Mas ao olharmos para a situação regional, onde todos estes
números assumem uma relevância e expressão muito maior, temos necessariamente
que nos questionar sobre o que se está fazer na região para responder a este
problema.
Mandam as boas práticas, quando o desemprego ultrapassa os
15%, a região onde tal facto acontece, deve ser objecto de um plano específico
para o combate a este problema, pois o mesmo já não é conjuntural mas assume
uma natureza estrutural.
Está evidente que o Algarve, região com uma economia alicerçada
no turismo, no comércio e serviços bem como na construção, sectores onde a
perca de emprego foi das mais notórias, esta não consegue responder e criar
empregos em número que compense aqueles que são destruídos.
A falta de dinamismo da economia regional criou, hoje, no
Algarve, um desemprego estrutural onde já nem o emprego sazonal e/ou precário,
cada vez menos expressivo, consegue ser resposta.
Torna-se urgente criar um plano especial de emprego para a
região do Algarve!
Deverá ser um plano onde as políticas públicas de emprego estejam
orientadas para a especificidade da economia regional, plano esse a ser desenhado
com contributos dos agentes económicos regionais, gerido e monitorizado na
região, dotado dos recursos financeiros adequados e muito focado em criar
condições para que os jovens e as mulheres reentrem rapidamente no mercado de
trabalho.
Outra das prioridades desse programa deverá ser o desemprego
de longa duração que representa hoje um terço dos desempregados, medidas
orientadas para a formação e qualificação destes activos devem ser a aposta.
Mas também as empresas precisam de melhorar a sua performance
competitiva, inovação e empreendorismo são essenciais na gestão, pelo que a
formação de empresários e gestores não deverá ser ignorada.
O desafio é enorme, o momento é de crise, o país e o Algarve
não podem continuar de braços caídos, urge fazer algo, aos decisores e a quem
tem a responsabilidade política exige-se que actuem, sob pena da crise e da
convulsão social que desta realidade poderá emergir possa colocar em causa o
estado de direito democrático tal como o conhecemos.
Fernando Anastácio
(empresário e militante socialista) in barlavento, 01.Março.2012
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