2012/03/01

Portugal 2012, um milhão de desempregados, a nossa realidade!


No momento em que o país vive a sua mais grave recessão económica, confrontamo-nos com um processo de destruição de emprego nunca visto, mais de um milhão de desempregados são a expressão da crise social e económica que assola o país.

Os números recentes do INE são a clara expressão dos efeitos devastadores no emprego que o pacote de austeridade em execução está a causar ao nosso mercado de trabalho.

No último trimestre de 2011 a taxa de desemprego chegou aos 14%, tendo-se verificado uma taxa anual de desemprego de 12,7% em 2011, número que ultrapassou qualquer uma das previsões existentes, tanto nacionais como internacionais.

Mas não podemos deixar de destacar o Algarve, onde o desemprego assume uma expressão tremenda, o Algarve encerrou o 4º trimestre de 2011 com uma taxa de desemprego de 17,5%, apresentando uma subida do terceiro para o quarto trimestre de 4,2 pontos percentuais, com quase cerca de 40.000 desempregados, a região do país com a mais alta taxa de desemprego.

Os números do desemprego brinda-nos ainda com uma outra realidade, um em cada três jovens estava desempregado no final de 2011. O desemprego jovem atingiu os 35%, número que tem vindo a crescer ao longo de todo o ano de 2011, situava-se no final do segundo trimestre em 27%, passou para 30% no terceiro trimestre e terminou o ano com 35,4%!   

Quando a nossa geração mais qualificada não está a ser aproveitada, a que futuro podemos aspirar?

Não pode qualquer executivo responsável alhear-se desta realidade, tanto na perspectiva nacional como na regional.

Na senda de uma linha de actuação baseada em criar factos mediáticos para contrapor a situações de crise, prática muito usada num passado recente e que os portugueses tiveram oportunidade castigar nas urnas, o governo veio criar uma comissão para resolver o problema do emprego jovem, coordenada pelo omnipresente ministro Miguel Relvas e lançar a polémica e perigosa ideia de entregar aos privados, leia-se às denominadas empresas de gestão de recursos humanos, o que hoje, por lei e por responsabilidade social do estado é função dos centros de emprego, a colocação de desempregados ao mercado de trabalho.

Seria normal que o governo estivesse a trabalhar, conjuntamente com a Comissão Europeia, no desenhar políticas activas de emprego bem como em alocar os necessários recursos para a sua implementação, mas nada disto se está a fazer!

O governo prefere continuar, não digo a ter fé que o desemprego passe, mas a olhar para a crise com manifesta indiferença, acreditando que da austeridade e da cada vez mais profunda recessão sairá uma qualquer solução milagrosa.

Mas ao olharmos para a situação regional, onde todos estes números assumem uma relevância e expressão muito maior, temos necessariamente que nos questionar sobre o que se está fazer na região para responder a este problema.

Mandam as boas práticas, quando o desemprego ultrapassa os 15%, a região onde tal facto acontece, deve ser objecto de um plano específico para o combate a este problema, pois o mesmo já não é conjuntural mas assume uma natureza estrutural.

Está evidente que o Algarve, região com uma economia alicerçada no turismo, no comércio e serviços bem como na construção, sectores onde a perca de emprego foi das mais notórias, esta não consegue responder e criar empregos em número que compense aqueles que são destruídos.

A falta de dinamismo da economia regional criou, hoje, no Algarve, um desemprego estrutural onde já nem o emprego sazonal e/ou precário, cada vez menos expressivo, consegue ser resposta.

Torna-se urgente criar um plano especial de emprego para a região do Algarve!

Deverá ser um plano onde as políticas públicas de emprego estejam orientadas para a especificidade da economia regional, plano esse a ser desenhado com contributos dos agentes económicos regionais, gerido e monitorizado na região, dotado dos recursos financeiros adequados e muito focado em criar condições para que os jovens e as mulheres reentrem rapidamente no mercado de trabalho.

Outra das prioridades desse programa deverá ser o desemprego de longa duração que representa hoje um terço dos desempregados, medidas orientadas para a formação e qualificação destes activos devem ser a aposta.

Mas também as empresas precisam de melhorar a sua performance competitiva, inovação e empreendorismo são essenciais na gestão, pelo que a formação de empresários e gestores não deverá ser ignorada.

O desafio é enorme, o momento é de crise, o país e o Algarve não podem continuar de braços caídos, urge fazer algo, aos decisores e a quem tem a responsabilidade política exige-se que actuem, sob pena da crise e da convulsão social que desta realidade poderá emergir possa colocar em causa o estado de direito democrático tal como o conhecemos.

Fernando Anastácio
(empresário e militante socialista)
in barlavento, 01.Março.2012

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